sábado, 2 de outubro de 2010

O RISO DE UMA BONECA


Hoje, num velho baú,
prisioneiro de lembranças,
encontrei minha boneca.
Sem braços,pernas quebradas,
corpinho todo arranhado;
na cabeça grandes sulcos
iam de um lado pra outro.
Vestido roto, sem graça,
mostrando que o tempo passa,
e ao passar leva tudo
até mesmo uma boneca.

Só uma coisa não mudou
no rostinho cor de rosa
daquela linda boneca
que acompanhou minha infância:
foi o riso sem mistério,
moldado no celulóide,
hoje, brinquedo de plástico,
grande invento que surgiu
há quantos anos?...não sei,
pra contentar quem não tinha
ricas bonecas de louça.

Numa barraca de festa
plantada no meio da praça,
bem exposto lá estava
Tão desejado brinquedo...
“ Compra mãe, eu já cresci
mas mesmo assim nunca tive
boneca sem ser de pano.”
E minha mãe só carinho,
renúncia , bondade e amor,
atendeu sem mais delongas
meu insistente pedido.

Aquela boneca foi
companheira e confidente
no aconchego feliz
de quem soube ser criança.
Mas o tempo, infelizmente,
na sanha de tudo levar,
arrancou das minhas mãos
o que sobrou do brinquedo
e fez dele mil pedaços.
Só não apagou o riso
da minha linda boneca.

Quem dera um minuto apenas
pra no tempo retornar,
vestir a minha menina
do colorido dos sonhos,
sem esquecer na cabeça
um chapéu feito de nuvens.
Nos seus cabelos de anjo,
fitas da cor do luar...
Dormir abraçada a ela
e acordar vendo o sorriso
da minha eterna boneca.
                            
Dulce Lima
Tabira, Dezembro de 2003

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