Agradecendo aos meus irmãos pajeuzeiros, familiares, aos amigos e aos companheiros da APPTA, publico a crônica - mensagem lida no palco da 24ª Missa do Poeta.
Nos caminhos da poesia
Olhando aqui deste palco, eu me vejo menina, atravessando as calçadas de Tabira, e já sonhando em ser poeta.
As calçadas se gastaram... e eu também. Mas o amor desmedido à cultura da minha cidade se intensifica a cada momento.
Não vejo futuro onde a memória de um povo não seja cultuada.
Não vejo perspectivas de progresso para um país que ainda escanteia o grande potencial, o talento e a habilidade artística dos nordestinos.
Uma região que tem como matéria- prima a PALAVRA e com ela resgata consciências, acorda a cidadania, encanta e emociona multidões, precisa ter muito mais orgulho por ser do Vale da Poesia.
Sou tabirense, sou pernambucana do Pajeú com muita honra. Guardo no mealheiro do horizonte sertanejo as minhas melhores lembranças quando se fala de POESIA, pois ela é em sua simplicidade, o sustento do dia-a-dia, o café da tarde, o pão dourado dos pajeuzeiros.
O que é mesmo POESIA?
É aro de fogo do sol, rodando as traves do tempo.
É a barra do dia, pressurosa, mesclando as cores do amanhecer na esperança de uma dia chuvoso.
É a presença de Deus abençoando o sertão pela voz dos poetas repentistas, arautos da viola nas noites de cantoria.
É a flor do mandacaru, exótica, surpreendente, perfumada, cujas pétalas atapetam o chão seco às margens do Rio Pajeú – nossa maior paixão.
E nesse entranhando amor por nossa terra, expresso minha sincera gratidão por tão significativa homenagem a qual reparto com todos vocês, irmãos pajeuzeiros , e pelos que fazem da POESIA um jeito especial de viver.
Que a missa do Poeta continue prestigiando nossas raízes culturais através da música e da poesia, essa dupla que se completa e se harmoniza sem o desgaste do tempo.
Nas tramas da emoção, deixo esta sextilha que sintetiza meu amor a Tabira, aos meus familiares e à região do Pajeú.
“ Sigo o rio Pajeú
Que corre neste rincão.
A enchente leva as águas,
Sonhando com a imensidão...
Mas os poços permanecem,
Irrigando o meu sertão!
Dulce Lima, Missa do poeta , 2011