quarta-feira, 30 de março de 2011

Duas lagartas verdes num dia de verão


                 


Era um dia de verão. Desses que agricultor nenhum deseja, pois o sol causticante passava soltando boca de fogo nas lavouras do sertão.
 Um a um, em fileiras, os pés de milho arfavam e vergavam sob o efeito dos dias secos e ensolarados. Até as gotinhas de orvalho já não davam conta de amenizar a alta temperatura.Acima havia Deus em sua infinita misericórdia. Logo abaixo, grossas nuvens e o brilho distante dos relâmpagos anunciavam chuvas. Na terra, um sertanejo teimoso não perdia a esperança de um bom inverno com farta colheita.

As plantas cresciam mesmo em sofrimento, guardando o mistério que há nos esconderijos do subsolo...
Naquele dia, tudo no roçado parecia mergulhado em silêncio... Puro engano: quem tinha ouvidos ecológicos entendia muito bem o que aquelas duas gordas e vorazes  lagartas verdes diziam:
_ “Esta folha é minha, venho guardando-a desde que a sementinha foi lançada ao solo.Folha carnuda, nova e bem cheirosa é meu prato favorito”.dizia a primeira lagarta.
_ “Tenho eu o mesmo direito: é folha, eu sou lagarta e a propriedade é comum.Por que não posso saboreá-la também?” Reclamava a segunda lagarta.
E nesse tira- teima, cada uma abocanhava partes da mesma folha que logo desaparecia, vítima da gula e da insensatez das duas lagartas devoradoras.
O tempo passou... Com poucas chuvas, muitas novenas pra S. José e o zelo incansável do plantador de esperanças, o milho cresceu e deu boas espigas.

As comilonas lagartas verdes agora são duas lindas e suaves borboletas que passam beijando de leve a cabeleira esvoaçante das espigas de milho, douradas pela luz da manhã.
Olhei bem aquelas duas borboletas, duas amigas inseparáveis. Do passado, apenas uma pequena listra verde, entre outras listras, dava mais realce ao seu novo e colorido vestuário.
E o agricultor inimigo das lagartas, mas amante das borboletas, tudo esquece só pela felicidade de ver o bailado daquelas ninfas azuis, brancas, amarelas...no espaço abençoado da tarde sertaneja que traduz a poesia das pequenas coisas nas asas diáfanas de uma borboleta.
Ah! Se o nosso mundo interior fosse também assim.
Que o bem sempre vencesse o mal.
Que das sombras da ganância pudesse frutificar a bondade.
Dos entulhos do erro, brotasse a VERDADE qual fênix renasce das cinzas...
Ah! Se o nosso coração cada vez mais pudesse ser assim na troca feliz, divina e humanitária da mágoa pelo PERDÃO.
                    Do ódio pelo AMOR.
                    Da escuridão pela LUZ DO INFINITO.
Ah! se o nosso mundo fosse sempre assim...

                                                         Dulce Lima
                                                     
                                                        Tabira, 27/04/2006

Para os leitores do meu blog, esta crônica, desejando felicidades e um bom inverno. E que o colorido das borboletas continue pintando de muitas cores as manhãs e as tardes aqui no sertão. Abraços de Dulce Lima, em 30/03/2011
              
                   



quinta-feira, 17 de março de 2011

A magia dos teus cabelos encaracolados






O mar era o teu encanto primeiro...





A areia escorria dos pés tão pequenos e o vento acariciava teu rosto " por baixo dos caracóis dos teus cabelos".



Um quê de graça e de mistério ora se escondia, ora se revelava no teu semblante de espanto ou de ternura diante da imensidão do mar...






As ondas como um brinquedo da natureza vinham te abraçar, deixando como presente a sinfonia nordestina de " Um galope à beira-mar":




No verde das ondas que passam beijando
Teus lindos "cabelos encaracolados",
Na espuma que borda esses teus pés molhados...
 Assim, eu te vejo com  Deus te abraçando!
E aquela sereia, de longe acenando,
Embarca risonha no teu cirandar.
A nuvem se esconde pra brisa passar;
Enquanto na praia, JOÃO corre feliz,
Vestido de areia, menino-aprendiz
Que canta galope na beira do mar!

Carapibus - Carnaval 2011

quarta-feira, 16 de março de 2011

Soneto CONTRASTE, de Padre Antônio Thomaz




Contraste

Quando partimos no verdor dos anos,
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à frente,
E vão ficando atrás os desenganos.

Rindo e cantando, céleres, ufanos,
Vamos marchando descuidosamente;
Eis que chega a velhice, de repente,
Desfazendo ilusões, matando enganos.

Então, nós enxergamos claramente
Como a existência é rápida e falaz,
E vemos que sucede, exatamente,

O contrário dos tempos de rapaz:

 Os desenganos vão conosco à frente,
E as esperanças vão ficando atrás.


       ( Que belo soneto do Padre Antônio Thomás, cearense de Aracati, eleito em 1925, Príncipe dos poetas cearenses)

sexta-feira, 11 de março de 2011

                 Uma cidade reinventada no Sertão do Cariri


Era quase meio dia. O sol dominava tudo. A cidade parecia adormecida após a folia carnavalesca.
Casas antigas, ruas, a praça e a igreja matriz exibem uma mística, ou
um encantamento que ainda luta para não desaparecer  no Sertão do Cariri.
A Rede Globo ao vivenciar um projeto de descentralização da cultura brasileira deslocou-se para Taperoá , Paraíba, em 2007 onde passou alguns meses construindo uma cidade cenográfica, ensaiando com atores locais e outros da Globo , ate filmar com sucesso a Minissérie A Pedra do Reino, baseada  no livro do escritor  paraibano e ilustre personalidade  Ariano Suassuna.
A cidade cenográfica construída em gesso e madeira; com espelhos e outros materiais da região, tornou-se orgulho do povo de Taperoá. Assim, essa minissérie podia mostrar ao mundo que as culturas nordestina e sertaneja têm raízes ibéricas, árabes e muitos elementos da idade Média.
Com o final das filmagens, a Prefeitura , o Estado da Paraíba e a Fundação Roberto Marinho assinaram um acordo para a não destruição da cidade cenográfica. Homenagem justa aos simpáticos taperoenses e ao escritor e teatrólogo Ariano Suassuna.  As paredes seriam reconstruídas em alvenaria para suportarem os efeitos climáticos da região. E  o local funcionaria como  espaço de cultura e arte dos moradores daquele município.
Não foi o que vimos agora (2011). A cidade cenográfica desapareceu com exceção da misteriosa igrejinha  que ficava no centro da casario..
Aproximei-me para uma foto: lixo, vidros quebrados, restos de madeira podre... triste cenário que nem mesmo a ousadia do  personagem, rei e herói “ Quaderna”  foi capaz de chamar a responsabilidade do Prefeito por tamanho descaso com a cultura taperoense.
“ Ave musa incadescente
Do deserto do sertão!
Forje no Sol do meu sangue,
O Trono do meu clarão:
Cante as pedras encantadas
E a catedral soterrada,
Castelo deste meu chão!”
( Ariano Suassuna, na apresentação do livro A Pedra do Reino)
                                  ( Dulce Lima, 09/03/2011)


quinta-feira, 10 de março de 2011



Escrita por Dulce Lima, mãe do Ultramaratonista Júlio Cordeiro e das corredoras Mônica e Mariana
Senhor Jesus:

Aqui estamos, reunidos para uma nova largada, seguindo os teus ensinamentos quando disseste que sempre que dois ou três se reunissem em Teu Nome, Tu estarias no meio deles.

Assim, nós te pedimos, Jesus:

Aceita as nossas preces como uma grande corrida para ver o mundo com mais paixão, respeito e determinação.

Que as ladeiras sejam para nós motivos de superação; e as planícies possam ser um momento de reflexão sobre os limites que o corpo nos impõe.

Obrigado, Senhor, pela emoção dos primeiros quilômetros alcançados, ou pela alegria incontida da primeira Maratona.

Obrigado, Senhor, pelas amizades conquistadas, pela palavra certa na hora mais difícil do percurso, e muito obrigado, de coração, pelos que ansiosamente nos esperam na reta de chegada.

Que a dor, a fadiga e os sentimentos desencontrados se dispersem pelas curvas do caminho, levados pela brisa passageira ou pelo encantamento das paisagens.

Que a Tua benção, ó Senhor, seja o nosso único troféu, na certeza de que:


Se caminhar é rezar com as pernas,
                      Correr é voar com Deus do nosso lado.

AMÉM
(Do blog irmascordeiro)