sábado, 2 de outubro de 2010

O Pássaro Pedreiro

Do pequeno sítio em Pocinhos, chega logo pela manhã a boa e surpreendente notícia: ''joão de barro'' começa a fazer sua casa no galho de uma mangueira.
Mais que depressa, organizo as minhas tarefas diárias e corro pra  ver o pássaro- pedreiro na incansável labuta de quem sonha em construir   um  belo ninho de amor.
Imaginem só! Até os pássaros entendem de barro molhado, estrutura de alicerce e paredes,  textura, alisamento, e de outras coisas mais ligadas à construção de uma moradia.
Como "quem casa quer casa", fiquei pensando que o pássaro- construtor estaria de casamento marcado, tamanha era a pressa em concluir o seu cantinho mesmo sem a ajuda da "joaninha de barro"; o que parecia estranho.
Passei um bom tempo a observar o vai-vem incessante do pedreiro, trazendo no bico ora barro molhado do açude ali pertinho, ora gravetos para a feitura daquela casa. Paredes, porta, divisão interna, o chão macio ...  e os últimos retoques. A obra finalmente ficou pronta. Que pássaro  inteligente e curioso. Merece ser admirado e,  para sempre,  preservado!
O arquiteto e amante fiel bate as asas de contente;  o seu canto é uma gargalhada. E com ele,  o sítio também suspira de alegria. A mangueira solitária e improdutiva balançou-se toda orgulhosa já antevendo as aventuras dos filhotes nos seus frondosos ramos. 
Mas, e a amada ,   "a joaninha de barro",  onde  estaria? Por que não aparecia para que juntos agitassem harmoniosamente as asas na  pura aquiescência do amor?
Voltei lá outro dia e presenciei o voo solitário do "joão de barro" pela última vez.
O lar está vazio e  triste: Sem dona de casa, sem canto de pássaro, sem o aconchego do casal. A chuva impiedosa e constante tenta estragar as paredes e o teto da casa; porem , o ninho feito com tanto carinho e cuidados  ainda resiste aos temporais, na esperança de de um breve reviver daquela   linda história de amor.
Não sei de fato o que aconteceu.  Não tenho o dom de S. Francisco de Assis para entender a linguagem dos pássaros. João de barro costuma trocar de casa mas não de companheira,  assim me contaram,   pois é amante fiel.E a joaninha?, nem sempre...
 Com o passar do tempo, e cicatrizadas as feridas de uma paixão não correspondida,  vou pedir a "joão de barro" que ofereça  sua casa para outro casal de pássaros  em busca de aconchego. Se ele consentir,  ficarei bem feliz por mais uma graça que a mãe Natureza nos proporciona todos os dias.
E a mangueira com o ninho refeito e  toda sorridente,  talvez crie coragem de  florescer, e de  nos presentear com a benção de frutos doces e saborosos. Afinal, o amor faz milagres.

 Dulce Lima
Tabira, 27/06/2010

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