Do pequeno sítio em Pocinhos, chega logo pela manhã a boa e surpreendente notícia: ''joão de barro'' começa a fazer sua casa no galho de uma mangueira.
Mais que depressa, organizo as minhas tarefas diárias e corro pra ver o pássaro- pedreiro na incansável labuta de quem sonha em construir um belo ninho de amor.
Imaginem só! Até os pássaros entendem de barro molhado, estrutura de alicerce e paredes, textura, alisamento, e de outras coisas mais ligadas à construção de uma moradia.
Como "quem casa quer casa", fiquei pensando que o pássaro- construtor estaria de casamento marcado, tamanha era a pressa em concluir o seu cantinho mesmo sem a ajuda da "joaninha de barro"; o que parecia estranho.
Passei um bom tempo a observar o vai-vem incessante do pedreiro, trazendo no bico ora barro molhado do açude ali pertinho, ora gravetos para a feitura daquela casa. Paredes, porta, divisão interna, o chão macio ... e os últimos retoques. A obra finalmente ficou pronta. Que pássaro inteligente e curioso. Merece ser admirado e, para sempre, preservado!
O arquiteto e amante fiel bate as asas de contente; o seu canto é uma gargalhada. E com ele, o sítio também suspira de alegria. A mangueira solitária e improdutiva balançou-se toda orgulhosa já antevendo as aventuras dos filhotes nos seus frondosos ramos.
Mas, e a amada , "a joaninha de barro", onde estaria? Por que não aparecia para que juntos agitassem harmoniosamente as asas na pura aquiescência do amor?
Voltei lá outro dia e presenciei o voo solitário do "joão de barro" pela última vez.
O lar está vazio e triste: Sem dona de casa, sem canto de pássaro, sem o aconchego do casal. A chuva impiedosa e constante tenta estragar as paredes e o teto da casa; porem , o ninho feito com tanto carinho e cuidados ainda resiste aos temporais, na esperança de de um breve reviver daquela linda história de amor.
Não sei de fato o que aconteceu. Não tenho o dom de S. Francisco de Assis para entender a linguagem dos pássaros. João de barro costuma trocar de casa mas não de companheira, assim me contaram, pois é amante fiel.E a joaninha?, nem sempre...
Com o passar do tempo, e cicatrizadas as feridas de uma paixão não correspondida, vou pedir a "joão de barro" que ofereça sua casa para outro casal de pássaros em busca de aconchego. Se ele consentir, ficarei bem feliz por mais uma graça que a mãe Natureza nos proporciona todos os dias.
E a mangueira com o ninho refeito e toda sorridente, talvez crie coragem de florescer, e de nos presentear com a benção de frutos doces e saborosos. Afinal, o amor faz milagres.
Dulce Lima
Tabira, 27/06/2010
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