Com a proximidade dos festejos juninos , não poderia deixar de falar sobre o nosso principal produto agrícola: o MILHO.
Toda a culinária sertaneja se volta para as comidas à base do milho como a canjica, a pamonha, bolos diversos, munguzá, milho assado e cozido etc.
O cheiro gostoso dessas comidas também nos traz saudades da infância, das festas nos terreiros das casas, com fogueiras e a presença dos amigos e vizinhos . A simplicidade dominava tudo, enquanto mais um balão subia para competir com as estrelas.
Para homenagear o São João, deixo aqui uma crônica escrita em 17/05/1997
A ESPIGA DE MILHO
Nasceu de uma boa semente, aquele pé de milho. Magrinho e aprumado, logo se enfeitou de um belo penacho na cabeça.
Dias e mais dias olhava, curiosa, o pendão de milho, balançando-se ao vento prá lá e prá cá.
Certa manhã de inverno, quando a Serra de Solidão cachimbava o friozinho aconchegante do mês de maio, fui ver o pé de milho. Surpresa!... Uma linda espiga agarrava-se ao caule o qual exibia vaidoso bela veste de tiras longas e verdes.
Que coisa engraçada! a espiga parecia uma bonequinha: frágil, tenra. De cabelos loiros e dentes de leite.
Os dias foram passando... e aquela menininha tão perfumada pelas gotas de orvalho crescia a olhos vistos. O seu cabelo foi mudando de loiro pra ruivo; de ruivo pra castanho; até que a mocinha virou uma linda mulher. Estava pronta para o milagre da vida ao debulhar-se toda na feliz multiplicação dos grãos.
Juntou-se a outras espigas companheiras, e nunca mais faltou "manjar no sertão: foi bolo de milho, mingau das crianças, pamonha, canjica , munguzá e outras iguarias de nossa culinária. E foi também a "alegria " dos sertanejos no calor das fogueiras e no ritmo cadenciado das quadrilhas juninas.
Depois, humilde, obedecendo ao ciclo da vida foi fubá, farinha e ração para os animais. Seu vestido que antes era verde e brilhoso, agora é cor de palha; e foi abandonado num canto do terreiro.
Quisera ser como aquela espiga de milho: debulhar -me toda para servir.Servir indistintamente aos meus irmãos.
Acreditar que a promessa da semente não é diferente do milagre da Ressurreição.
Quisera envelhecer sem "medos"e ser como a semente para um novo despertar.
Quisera enfim ser simples, ser feliz como aquela ESPIGA DE MILHO!.
Dulce Lima, Tabira Pe, em 23/06/2010
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