(Paráfrase do poema “Depois que a feira termina”, de Dedé Monteiro)
Depois que a chuva termina
Esbraveja o carroceiro
Por essa chuva tardia.
A mulher de Zacaria
Que estava lá no terreiro,
Escorrega no atoleiro
E grita: “Traz a botina,
Quanto é triste a minha sina!”
Foi se esconder na cozinha;
E só sai de tardezinha
Depois que a chuva termina.
A mãe diz: “chegou a hora
Do teu transporte escolar.
Sem mesmo a chuva passar,
Veste a roupa sem demora,
Pega a bolsa e vai-te embora.”
O motorista buzina,
Mas no lamaçal da esquina,
Nem pra frente e nem pra trás...
E a mãe só se sente em paz
Depois que a chuva termina
No burburinho da feira,
Sobe gente e desce gente,
Embora o sol seja quente,
Continua a lamaceira.
Quem compra sai na carreira,
Quem vende espera a neblina.
Nessa “vida Severina”
Abre os braços numa prece,
E pra Deus só agradece
Depois que a chuva termina.
Um rapaz c’a namorada,
Moça bonita e manhosa,
Recebe dele uma rosa
Debaixo de uma sacada.
De uma nuvem escancarada
Lá vem chuva grossa ou fina.
Mas o casal faz cortina
De beijos à flor das águas...
E o vento carrega as mágoas
Depois que a chuva termina.
Ouço o sino bem cedinho
Lá na torre da igreja,
Tocando pra quem deseja
Palmilhar o bom caminho.
Sacristão pisa mansinho,
Vigário veste a batina,
Mas pra santa pequenina,
Seja noite ou seja dia,
Só repete Ave-Maria
Depois que a chuva termina.
“Vai ter circo na cidade”,
O carro passa avisando.
É menino saltitando,
Velho esquecendo a idade...
Que festa pra mocidade!
Acende-se a lamparina
Do circo lá na colina.
Vem trovão apaga a luz.
E o povo diz;” credo em cruz”
Depois que chuva termina.
Dulce Lima, julho 2011
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