Era um dia de verão. Desses que agricultor nenhum deseja, pois o sol causticante passava soltando boca de fogo nas lavouras do sertão.
Um a um, em fileiras, os pés de milho arfavam e vergavam sob o efeito dos dias secos e ensolarados. Até as gotinhas de orvalho já não davam conta de amenizar a alta temperatura.Acima havia Deus em sua infinita misericórdia. Logo abaixo, grossas nuvens e o brilho distante dos relâmpagos anunciavam chuvas. Na terra, um sertanejo teimoso não perdia a esperança de um bom inverno com farta colheita.
As plantas cresciam mesmo em sofrimento, guardando o mistério que há nos esconderijos do subsolo...
Naquele dia, tudo no roçado parecia mergulhado em silêncio... Puro engano: quem tinha ouvidos ecológicos entendia muito bem o que aquelas duas gordas e vorazes lagartas verdes diziam:
_ “Esta folha é minha, venho guardando-a desde que a sementinha foi lançada ao solo.Folha carnuda, nova e bem cheirosa é meu prato favorito”.dizia a primeira lagarta.
_ “Tenho eu o mesmo direito: é folha, eu sou lagarta e a propriedade é comum.Por que não posso saboreá-la também?” Reclamava a segunda lagarta.
E nesse tira- teima, cada uma abocanhava partes da mesma folha que logo desaparecia, vítima da gula e da insensatez das duas lagartas devoradoras.
O tempo passou... Com poucas chuvas, muitas novenas pra S. José e o zelo incansável do plantador de esperanças, o milho cresceu e deu boas espigas.
As comilonas lagartas verdes agora são duas lindas e suaves borboletas que passam beijando de leve a cabeleira esvoaçante das espigas de milho, douradas pela luz da manhã.
Olhei bem aquelas duas borboletas, duas amigas inseparáveis. Do passado, apenas uma pequena listra verde, entre outras listras, dava mais realce ao seu novo e colorido vestuário.
E o agricultor inimigo das lagartas, mas amante das borboletas, tudo esquece só pela felicidade de ver o bailado daquelas ninfas azuis, brancas, amarelas...no espaço abençoado da tarde sertaneja que traduz a poesia das pequenas coisas nas asas diáfanas de uma borboleta.
Ah! Se o nosso mundo interior fosse também assim.
Que o bem sempre vencesse o mal.
Que das sombras da ganância pudesse frutificar a bondade.
Dos entulhos do erro, brotasse a VERDADE qual fênix renasce das cinzas...
Ah! Se o nosso coração cada vez mais pudesse ser assim na troca feliz, divina e humanitária da mágoa pelo PERDÃO.
Do ódio pelo AMOR.
Da escuridão pela LUZ DO INFINITO.
Ah! se o nosso mundo fosse sempre assim...
Dulce Lima
Tabira, 27/04/2006
Para os leitores do meu blog, esta crônica, desejando felicidades e um bom inverno. E que o colorido das borboletas continue pintando de muitas cores as manhãs e as tardes aqui no sertão. Abraços de Dulce Lima, em 30/03/2011
Um comentário:
Minha querida amiga,matando as sds lendo as tuas cronicas,que me encantaram um dia e continuam a encantar ,pela tua singeleza e doçura "das coisas pequenas",como diria Manoel de Barros ,.
abraços no coração ,minha poeta muito querida!
Valéria
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