sábado, 31 de dezembro de 2011

Os Bancos da Praça Gonçalo Gomes
A Praça Gonçalo Gomes era o reduto dos jovens na década de “60”. E os bancos que  a rodeavam funcionavam como peça fundamental para as conversas animadas, os namoricos, ou simplesmente para os olhares furtivos de um alguém  ou o  encontro com os   amigos mais assíduos.
Os meus poucos leitores poderão perguntar:
- Por que falar do passado quando há muito o que sonhar para 2012?...
 Aqueles bancos, a partir das 19h,  viravam atração, ponto convergente de uma juventude sem grandes problemas numa cidade que ainda não conhecia a violência. .Para onde foram eles,os bancos, levando os nossos sonhos e as primeiras preocupações de um país à  beira de uma Ditadura?  
Enquanto rolava a paquera nos finais de semana, ouvíamos da Praça os acordes da Qrquestra OARA afinando os instrumentos no Grêmio Lítero para mais uma noite de festa ansiosamente esperada pelos tabirenses.
Mas a Praça fazia parte da festa. E no meio de tantas expectativas, lá estava eu,  mais parecendo um feixe de desejos  e de esperanças na liquidez dos dias que passavam tão rapidamente...
De tudo, tive a ventura de captar alguns momentos; esses pingos de lembranças que se espalharam na geografia de algumas crônicas ou se transformaram em pequenos poemas jamais publicados.
Durante o período natalino, a praça não tinha, como hoje, essa feérica iluminação que tanto embeleza e congrega os tabirenses nesta  época. Havia, no entanto,o brilho talvez de uma estrela em nossos corações.  O presépio nos mostrava a simbologia do Deus-Menino na simplicidade do pequeno berço, abençoando a humanidade. Ali, tudo me encantava e me levava a repetir:”Glória a Deus nas alturas”.  Mais tarde, sentada em um dos bancos da praça, eu pensava na atitude dos Reis Magos que de tão longe e por caminhos diversos, pacientemente, seguiram aquela estrela para abraçar o Menino Jesus.
Nesse final de 2011 e começo de 2012, deixo o meu abraço a todos os amigos, familiares e leitores do meu Blog,  desejando-lhes felicidades, sonhos e mais sonhos, paz e muita harmonia.
E que a magia de um banco de praça continue sendo um poema bem guardado na vida de
Todos os que continuam jovens, apesar das artimanhas da vida.
                                                                                                       Dulce Lima, 31/12/2011
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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Recordar é viver
Depois de alguns acertos e muita ansiedade, três setentonas, três ex-estudantes do extinto Colégio Monte Carmelo (1953/1958) resolveram retornar a Princesa Isabel  - PB -  para ver  bem de perto que cor tem a Saudade.
Dulce(eu), Alaíde e Edileuzinha acordaram cedo, fizeram mil recomendações aos familiares ... mas, após atravessarem o batente da porta, as três meninas viraram novamente três jovens estudantes  a caminho da histórica e lendária cidade paraibana, palco central de alguns episódios da Revolução de 1930.
No caminho,  as lembranças  nos assaltavam  a cada curva da estrada: aqui,  havíamos sofrido um pequeno acidente; ali,  ficava a casa de uma colega que hoje habita na morada celestial.  Bem mais distante era  a entrada de um sítio onde as freiras nos levavam para os piqueniques...
Adentramos a cidade sob um sol arrasador. Não conhecíamos mais ninguém. Muito s dos nossos amigos dormiam profundamente o sono dos justos. A princípio, sentimos  o impacto do progresso. Onde a rua? A calçada, a antiga igreja, o Colégio?
Ah, O Colégio permanecia lá...embora com algumas alterações . Entramos devagarinho. Nem parecíamos as tagarelas do passado. Nossos passos ressoavam, ou era a vida que passava por nós? Com um olhar saudoso, abraçávamos tudo: as portas , a entrada do refeitório, os antigos corredores, aquelas pedras onde conversávamos sobre o futuro, amores, sonhos e sucesso profissional. Registramos esse momento especial com fotos tiradas no pequeno jardim, e mostrando a relíquia de uma gravatinha da farda de gala do Colégio Monte Carmelo.
Continuamos o passeio com a companhia de atenciosas funcionárias da Secretaria de Ação Social /Prefeitura Municipal e de minha irmâ Socorro, às quais agradecemos de coração. Visitamos o novo Colégio que guarda um pouco do acervo do Monte Carmelo, a nova Igreja –Matriz, e o misterioso Palacete do Coronel José Pereira.
Depois , e já por nossa conta, andamos a pé, tentando achar os nossos rastros ali deixados há mais de 50 anos... E as pedras do antigo calçamento? O progresso as levou para onde?Uma grande e alegre surpresa foi visitar a nossa professora Ceição Lima que nos recebeu na sombra amiga do seu terraço. Aí, de verdade, sentimos que valeu a pena a nossa viagem em busca do tempo bem vivido.
No finalzinho do passeio, insisti para irmos no sentido de quem vai pra Manaíra. É que eu havia morado, por um certo tempo,  em uma casa próxima ao açude da cidade. A casa, não pude identificar, mas do açude ouvi o pedido de “SOCORRO”. Foi, sem dúvida, a nota triste do passeio. Perguntei aos que passavam o motivo do assoreamento, da poluição e de tanto descaso. As respostas não me convenceram. Juntei minhas lágrimas ao choro do açude.
 Por favor, princesenses, façam o milagre da ressurreição. Leiam e reflitam as belas mensagens colocadas em placas à beira do açude. Façam delas uma nova revolução para restaurar a vida e a beleza das águas do nosso querido açude.
De volta, subimos lentamente a ladeira da avenida central.
 Os anos pesam, as pernas cansam, as lembranças da juventude apertam o coração.
 É que sentimos , naquele final de tarde, no silêncio dos nossos corações, uma inquietante saudade de nós mesmas.
Dulce Lima, outubro de 2011

Fotos do passeio:

























segunda-feira, 3 de outubro de 2011

 Crônica de um sol de verão
Oi, sol!
Eis que tu voltas todas as manhãs...
E rachas o ventre das terras sertanejas,
Traçando mosaicos na lama seca dos açudes.
Oi, sol!
 Tu,que ao meio dia
De um verão abrasador,
Acordas a cigarra cantadeira
Com saudades do seu  cantarolar...
 Vê que as juremas floridas gargalham
Ou cochicham de orgulho,
Pois só elas enverdecem
O nosso chão ressequido.
Outrora,
Teus raios dardejantes calaram multidões...
Afagaram o berço de crianças na guerra...
E aqueceram as nossas esperanças.
Quando nuvens negras caiam sobre a terra,
E as sombras  pareciam te ameaçar,
Serviste de horizonte para os  que em terras distantes
Madrugavam os sonhos de uma Pátria Nordestina.

Oi,sol!
Cega, tonta de luz,
Tu me deixas afogada
 Na aquarela ensolarada
Do Sertão do Pajeú!
Bebo a morna energia das tuas manhãs
Que adentram as janelas de minha vida inteira.
E recolho a emoção do teu por do sol,
Aprontando o leito pra noite dormir...

E hoje, ó sol,  sou toda claridade:
Bênção de fogo,  brancura de Paz,
Curtida na trama quente de um verão dourado.

Obrigada, sol, por tantas lágrimas que secaste,
Pelas flores que se abriram à tua passagem...
Pelos girassóis que se encantaram
com  tua brilhante trajetória.
Mais uma vez, 
Oi,  sol,
Obrigada!

(Poema inspirado em texto do pintor, escultor  e poeta  Carlos Vilaró  e ouvido ao por do sol em Casapueblo, Museu  Taller, Punta Ballena- Uruguai,  local  de residência do   artista.)

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Homenagem da APPTA

Este são os dizeres de uma placa recebida no palco da 24ª Missa do Poeta:
“Salve, Mestra Dulce Lima,
Descobridora de rima
Do berço dos trovadores.
A nossa autêntica cronista
Assume o topo da lista
Do seu Pajeú das flores.”
                                APPTA, 17/09/2011

Agradecimentos aos irmão s da  APPTA:
Quero lhes dizer que devo grande parte dessas homenagens ao que aprendi , transmiti e convivi ao lado de vocês por quase 20 anos.
A APPTA é mais do que uma segunda família:
É amor pela cultura do  sertão...
É jeito de viver.
É rir e chorar às vezes...Como acontece na Mesa de Glosas a cada ano.
É Sabedoria que reflete o brilho das nossas estrofes, refazendo a história da poesia tabirense.
A APPTA é tudo isso e muito mais...
 Um grande abraço.E que a nossa Associação continue de portas abertas para os que respeitam e preservam os valores culturais do Pajeú.
Dulce Lima, Tabira PE

Obrigada, Amigo!

Eita, Dedé, que bonita homenagem, principalmente vindo de um poeta  e de um amigo como você: culto, sério, simples, popular,  clássico  e  de bom astral. Companheiro fiel das nossas eternas oficinas de poesia. Pois não é que estou quase virando uma poeta?
Fiquei tão emocionada que nem sei como desci aquelas  escadas  após as homenagens da 24ª Missa do Poeta. Obrigada, amigo. Obrigada APPTA. Obrigada meus irmãos pajeuzeiros e amantes da Poesia.
Eis na íntegra, a mensagem do poeta Dedé Monteiro:
“Você é toda sertão:
Luar, roçado, fogueira...
Pajeú de pés no chão,
Sertaneja verdadeira!
Você é “pardal da praça”,
Que deixa a gente sem graça
Sempre que dela se ausenta...
“ Maria” abençoada
É “ Dulce”cronificada,
É Lima metrificada:
“Pessoa” experimentada
Que sabe o que representa!

Você merece toda esta homenagem,
Pela coragem de ser como é:
Alma  repleta do nosso universo
Feito de verso, de esperança e de fé!

Você merece ser abençoada,
Paparicada, celebrada enfim...
Merece tudo que merece alguém
Que faz do bem princípio, meio e fim.

Você, que sempre que produz um texto,
Acha um pretexto pra nos encantar,
Merece o abraço de quem reconhece
Quanto merece quem só sabe amar.

Você que escreve com paixão profunda,
Que nos inunda com seu dom divino,
Merece aplausos como  recompensa
Na Festa imensa de Zé Marcolino!”

Dedé Monteiro –Tabira, 17/09/2011”
        Agradecendo aos meus irmãos pajeuzeiros, familiares,  aos amigos e aos companheiros da APPTA, publico a crônica - mensagem lida no palco da 24ª Missa do Poeta.
Nos caminhos da poesia

Olhando aqui deste palco, eu me vejo menina, atravessando as calçadas de Tabira, e já sonhando em ser poeta.
As calçadas se gastaram... e eu também. Mas o amor desmedido à cultura da minha cidade se  intensifica a cada momento.
Não vejo futuro onde a memória de um povo não seja cultuada.
Não vejo perspectivas de progresso  para um país que ainda escanteia o grande potencial, o talento e a habilidade artística dos nordestinos.
Uma região que tem como matéria- prima a PALAVRA   e com ela resgata consciências, acorda a cidadania, encanta e emociona multidões, precisa ter muito mais orgulho por ser do Vale da Poesia.
Sou tabirense, sou pernambucana do Pajeú com muita honra. Guardo no mealheiro do horizonte sertanejo as minhas melhores lembranças quando se fala de POESIA, pois ela é em sua simplicidade, o sustento do dia-a-dia, o café da tarde, o pão dourado dos pajeuzeiros.
O que é mesmo POESIA?
É aro de fogo do sol, rodando as traves do tempo.
É a barra do dia, pressurosa, mesclando as cores do amanhecer na esperança de uma dia chuvoso.
É a presença de Deus abençoando o sertão pela voz dos poetas repentistas, arautos da viola nas noites de cantoria.
É a flor do mandacaru, exótica, surpreendente, perfumada, cujas pétalas atapetam o chão seco às margens do Rio Pajeú – nossa maior paixão.
E nesse entranhando amor por nossa terra, expresso minha sincera gratidão por tão significativa homenagem a qual reparto com todos vocês, irmãos pajeuzeiros , e pelos que fazem da POESIA um jeito especial de viver.
Que a missa do Poeta continue prestigiando nossas raízes culturais através da música e da poesia, essa dupla que se completa e se harmoniza sem o desgaste do tempo.
Nas tramas da emoção, deixo esta  sextilha que sintetiza meu amor a Tabira,  aos meus familiares e à região do Pajeú.


“ Sigo o rio Pajeú
              Que corre neste rincão.
                   A enchente leva as águas,
                     Sonhando com a imensidão...
                     Mas os poços permanecem,
            Irrigando o meu sertão!
                                                   Dulce Lima, Missa do poeta , 2011

sexta-feira, 26 de agosto de 2011


                           OS PARDAIS DA PRAÇA GONÇALO GOMES
Há dias em que  a inspiração simplesmente vira fumaça, ou  mesmo desaparece.Por mais que se tente, a palavra foge, o pensamento se esquiva, o texto não se estrutura.
Mas, não me preocupo com a folha em branco; e até entendo, pois como disse João Cabral de Melo Neto” : “Inspiração não acontece por acaso. Ela é fruto de um trabalho árduo e de contínua dedicação.”
Entretanto, num dia desses, vinha eu apressada, tentando conciliar as inúmeras tarefas com a exiguidade do tempo, quando, não mais que de repente, deparei-me com um belo espetáculo de música e poesia no finalzinho de uma tarde quente e abafadiça de verão.
Olhei em volta... ninguém  percebia, ninguém ouvia  a inusitada seresta dos pássaros nas acácias da Praça Gonçalo Gomes. Centenas de pardais, voltando dos passeios livres em busca de alimentos, ali retornavam  para o acalento e o repouso tranqüilo naquelas  árvores  -  pontos verdes  na paisagem cinzenta do sertão pernambucano.
De início, eles faziam algazarra, contando, uns aos outros, as travessuras ao se arriscarem nas pedras do calçamento à procura de gravetos para o feitio dos seus ninhos. Logo mais só sussurros... lento e suave ruflar de asas...troca de afetos.
Finalmente os pardais adormecem embalados pelos sonhos de novos ninhos de amor.
Fiquei feliz por sentir a poesia das pequenas coisas.
Por me encantar com a simplicidade do canto dos pássaros no derradeiro suspiro da tarde que se despede.
E agradeci a Deus por entender que jamais o mundo será dominado pela frieza dos computadores, ou pela clonagem de sentimentos.Haverá sempre, e disso eu tenho certeza, um ruflar de asas em nossas emoções; a sensação de ser livre como o vôo dos passarinhos. E a quietude dos desejos no anoitecer de nossas vidas.
É só ter sensibilidade como o poeta Olavo Bilac para “ouvir e entender estrelas sem perder o senso”. É só ser Pardal e acordar pela manhã com a mesma seresta do final do dia.
É também acreditar que a sabedoria dos lírios do campo pode transformar o mundo numa aldeia global de Amor e de Solidariedade, onde DEUS é a inspiração maior da existência humana.
                                                                                                         Dulce Lima, 06/02/1998