sexta-feira, 26 de agosto de 2011


                           OS PARDAIS DA PRAÇA GONÇALO GOMES
Há dias em que  a inspiração simplesmente vira fumaça, ou  mesmo desaparece.Por mais que se tente, a palavra foge, o pensamento se esquiva, o texto não se estrutura.
Mas, não me preocupo com a folha em branco; e até entendo, pois como disse João Cabral de Melo Neto” : “Inspiração não acontece por acaso. Ela é fruto de um trabalho árduo e de contínua dedicação.”
Entretanto, num dia desses, vinha eu apressada, tentando conciliar as inúmeras tarefas com a exiguidade do tempo, quando, não mais que de repente, deparei-me com um belo espetáculo de música e poesia no finalzinho de uma tarde quente e abafadiça de verão.
Olhei em volta... ninguém  percebia, ninguém ouvia  a inusitada seresta dos pássaros nas acácias da Praça Gonçalo Gomes. Centenas de pardais, voltando dos passeios livres em busca de alimentos, ali retornavam  para o acalento e o repouso tranqüilo naquelas  árvores  -  pontos verdes  na paisagem cinzenta do sertão pernambucano.
De início, eles faziam algazarra, contando, uns aos outros, as travessuras ao se arriscarem nas pedras do calçamento à procura de gravetos para o feitio dos seus ninhos. Logo mais só sussurros... lento e suave ruflar de asas...troca de afetos.
Finalmente os pardais adormecem embalados pelos sonhos de novos ninhos de amor.
Fiquei feliz por sentir a poesia das pequenas coisas.
Por me encantar com a simplicidade do canto dos pássaros no derradeiro suspiro da tarde que se despede.
E agradeci a Deus por entender que jamais o mundo será dominado pela frieza dos computadores, ou pela clonagem de sentimentos.Haverá sempre, e disso eu tenho certeza, um ruflar de asas em nossas emoções; a sensação de ser livre como o vôo dos passarinhos. E a quietude dos desejos no anoitecer de nossas vidas.
É só ter sensibilidade como o poeta Olavo Bilac para “ouvir e entender estrelas sem perder o senso”. É só ser Pardal e acordar pela manhã com a mesma seresta do final do dia.
É também acreditar que a sabedoria dos lírios do campo pode transformar o mundo numa aldeia global de Amor e de Solidariedade, onde DEUS é a inspiração maior da existência humana.
                                                                                                         Dulce Lima, 06/02/1998

sábado, 13 de agosto de 2011

Caminhada sentimental na rota do Rio Araguaia GO

Há muitos anos ouvi falar de um sonho ousado, de uma loucura realizada por meu irmão DONCA , um tabirense pouco conhecido em sua cidade de nascimento a não ser através do livro “ Meus caminhos, meu viver”, lançado em Tabira há mais de 15 anos.
 Na minha cabeça, era difícil encaixar aquela história sem precedentes, principalmente do lado de cá do Pajeú. Acontece que mesmo sem ser de Goiás, eu sabia de tudo o que aconteceu  desde a primeira vez que Donca fez sozinho o percurso Goiânia – Aruanã ,  numa distância de 330km, durante cinco dias e  passando por várias cidades até às margens do Rio Araguaia sempre realizando um momento ecológico por onde passava..  O que mais me apaixonava e até me espantava era saber que a caminhada tinha o objetivo principal de preservar o meio ambiente, alertar a população para a defesa do Rio Araguaia e cuidar com mais  amor das belezas do Cerrado. Hoje, é bem mais fácil falar de preservação, mas naquela época (1993- 2003) tudo parecia exagerado e perigoso diante dos grandes fazendeiros e criadores de gado da região.
Agora, em julho 2011, saí de Tabira com minha irmã Socorro para assistir de perto a XX Caminhada Ecológica, passando por 11 municípios e pernoite em  4 cidades até a chegada em Aruanã, onde os atletas, 27 heróis, concluem a caminhada com um banho reconfortante nas águas do Araguaia, como fez Donca em sua primeira caminhada solitária.
Meu irmão, o visionário, o louco, o sonhador, o escritor e poeta fez sua última jornada na direção de Deus há oito anos. De lá pra cá são muitas e sinceras as homenagens  com a presença de Verônica (esposa de Donca) dos filhos e netos e dos muitos companheiros de tantas caminhadas e corridas em Goiás e outros estados do país.
Ainda estou tentando processar as idéias... O evento me deixou bastante emocionada ao ver um telão no Palacio das Esmeraldas durante o jantar com o representante do Governador, secretários, reitores de universidades,  jornal O POPULAR, rede de TV, alunos e professores de várias faculdades, os 27  corredores selecionados para a XX Caminhada Ecológica e nós, familiares de Antonio Firmino de Lima- o Donca.
De tudo que vi no palácio e durante as conversas sobre o “pioneiro”, de todas as frases retiradas dos 4 livros de Donca, de todas as lágrimas de emoção, guardei comigo a mensagem da Organização Jaime Câmara GO, após a morte do meu irmão:
“ Alguns homens quando morrem não morrem viram sementes”
.........
Donca deve estar feliz em saber que esta corrida é única na América Latina e talvez no mundo,  não só pela distância percorrida mas, e principalmente,  pelos seus objetivos em defesa da Ecologia;   pois em cada cidade do percurso são plantadas árvores e realizadas outras ações em favor do Cerrado Goiano.
Nessa caminhada sentimental, tive a felicidade de rever meus familiares, (que saudades!)e a alegria de abraçar o Rio Araguaia, e até deslizar em suas águas , e nadar um pouquinho ,que o rio não é brincadeira... assim me dizia  a querida sobrinha Vanilde.
Da casa de campo de Francisca, outra sobrinha e alegre anfitriã, via o Araguaia ainda potente, majestoso, cheio de praias que mudam de lugar, muitos acampamentos,  nativos, pássaros e o silêncio grandioso da Natureza que pede passagem.
Que Deus guarde o Araguaia. Que o proteja de mãos assassinas. Deixem que suas águas continuem acalentando o sono eterno do meu irmão. Donca não exigiu glórias, queria apenas atitudes de respeito e de preservação da natureza. E é por isso que o Jornal O POPULAR de Goiânia GO acompanhou durante cinco dias o evento, fazendo uma brilhante divulgação como sempre fez desde o início das referidas caminhadas.
Vejamos aqui algumas manchetes do O POPULAR, no período 19 a 25 /07/2011:
“Eles estão a um passo de fazerem história: Esses são os heróis da XX Caminhada Ecológica” “21/07/2011
“Caminhada Ecológica, que no início parecia uma idéia absurda, hoje é a maior do gênero na América Latina” (Ssuplemento do Jornal O POPULAR, de 19/07/2011)
DOM de semear e ousar:Donca queria fazer algo para que as futuras gerações desfrutassem das belezas do rio Araguaia e Cerrado”
“A gente divide o coração em dois. Um em cada pé. ( Prefeitura de Itauçu) por João Batista
“Eles chegam, voam aqui, ali e se vão, como se fossem beija-flores”. Maria de URU
“É tempo de férias saudáveis: Unimed na Caminhada Ecológica”
“ Eles escreveram  seus nomes na história da preservação da natureza” (25/07/2011)
“As belezas naturais de FAINA vão se encantar com os heróis da natureza.” (22/07/2011)
“ Atletas são recebidos e homenageados  pela madrinha Maria de URU entre Itaberaí e Cidade de Goiás”
“Evento ganha um monumento em Aruanã” (24/07/2011)
“ Nas águas do Araguaia termina mais uma jornada (24/07/2011)

De Tabira, o poeta Dedé monteiro enviou a seguinte estrofe:

“Donca era tão atual,
Tão puro, tão sonhador,
Que tornou-se o precursor
Desse evento especial.
Da moto-serra imoral
Só distância ele queria.
Inflava o peito e dizia
Quando punha os pés na estrada:
Ninguém perde a caminhada
Nos passos da Ecologia.’’
                                      Fiz seguindo o mesmo mote, esta estrofe:
Araguaia foi paixão,
Goiânia – tua cidade.
Teu lema _ simplicidade.
Teu grito, mais que um clarão.
Pela voz do coração,
Pela mata preservada ,
Hoje eu sigo tua estrada
Nesse chão que contagia:
Nos passos da Ecologia
Ninguém perde a caminhada!


Depois da caminhada, e já de volta a Tabira , pensei no rio Capibaribe tão lindo e tão sofrido. Senti saudades do nosso Rio Pajeú tão importante numa terra ressequida. Mágico pela surpresa de aparecer após as primeiras enxurradas...  Rio Feiticeiro, rio dos poetas, que posso eu fazer por ele? ..  Amor não me falta. Precisamos de muitas mãos, de corações que pulsam pela defesa desse presente que Deus nos deu.
 Fale, grite, defenda o Rio Pajeú assim com fez Diomedes Mariano no seu poema  “O rio ainda está vivo”.

 Fotos do passeio e  da XX Caminhada Ecologíca Goiânia - Aruanã 2011